A
ANGÚSTIA DO PECADO.
“E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo:
Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
”. (Mateus
27.46).
Essas provavelmente sejam as palavras mais angustiantes e
chocantes da vida de Jesus. Esse brado de Jesus na Cruz, foi a mais
extraordinária expressão daquela aterradora cena.
Que um inocente fosse condenado, que sem culpa fosse perseguido,
que um benfeitor fosse cruelmente sentenciado a morte, não era nenhum
acontecimento novo na história.
Do assassínio do Justo Abel àquele de Zacarias houve uma
longa lista de martírios. Mas aquele que estava pendurado na Cruz no centro não
era nenhum homem comum, era o filho do homem, aquele no qual todas as
excelências se encontravam – o Perfeito. Seu caráter era como sua túnica
“tecida toda de alto a baixo, [e] não tinha costura. (João 19.23).
23 Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as
suas vestes, e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e também a
túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura. (João
19.23).
O Juiz que procedeu seu julgamento disse:
38
Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os
judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum. (João 18.38).
É por isso que soa tão estranho para cada de um de nós este
momento. O pai que que afirmava do seu filho: “Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo”. (Mateus 3:17) Permite agora que Ele seja entregue a uma
morte tão vexaminosa. O seu filho amado, se encontra em condição de desamparo.
“Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? ”.
Imagine um homem desamparado de seus amigos.
Uma esposa desamparada por seu marido.
Uma criança desamparada por seu pai.
Agora imagine: Um homem desamparado por Deus. Esse é o
quadro mais horrendo de todos.
O homem sempre clamou ao Senhor, para que Ele não o
desamparasse:
57 O
Senhor nosso Deus seja conosco, como foi com nossos pais; não nos desampare, e
não nos deixe (1 Reis 8.57).
O que então significou para Jesus estar DESAMPARADO?
A hora do desamparo é a hora do seu maior sofrimento. O
apogeu de sua angústia. Os soldados o açoitaram, zombaram dele, colocaram sobre
sua cabeça uma coroa de espinhos.
Despojaram seus vestidos e o expuseram a vergonha
explícita. Perfuraram suas mãos e pés. Quando a ira concentrada de Deus desceu
sobre ele, exclamou e disse: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? ”.
Essas são palavras do mais profundo mistério. Como explicar a falta de socorro na angústia:
“Deus
é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”. (Salmos
46:1),
Teria falhado a promessa?
Deus esteve presente na fornalha ardente dos três amigos.
Deus esteve presente na cova dos leões com o profeta
Daniel.
O que faz dessa uma hora tão diferente?
Da cruz se levanta o clamor mais dorido da história da
humanidade, e do céu não há resposta alguma.
Esse é um brado desconcertante para o Evangelho. Um brado
de desamparo, nada comum e bastante desconfortável ante as promessas de Deus.
“...nunca
vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão”. (Salmos 37.25).
As Escrituras Sagradas não deixam dúvida de que tais
palavras de inigualável tristeza foram tanto a mais completa manifestação do
amor divino e da mostra mais inspiradora de terror da inflexível justiça
divina.
Nesse quarto pronunciamento de Jesus, conseguimos perceber:
1) A ENORMIDADE DO PECADO E O CARÁTER DE SEU SALÁRIO.
1) A ENORMIDADE DO PECADO E O CARÁTER DE SEU SALÁRIO.
Na crucificação, ficam evidentes as marcas do pecado que
estão sobre a humanidade. Fica estampada a depravação do coração humano – seu
ódio por Deus, sua ingratidão abjeta, seu amor às trevas em lugar da luz. A
preferência pelo príncipe da morte ao invés do príncipe da vida. Na cruz fica
clara a Inimizade do homem contra Deus.
Na crucificação, ficam ainda mais evidentes, as marcas da
perfeição Divina e a inefável Santidade de Deus. Ficam evidentes, sua justiça
inflexível, sua ira terrível e sua graça sem par.
Na crucificação, também fica evidente a enormidade do
pecado – sua vileza, sua torpeza, sua rebelião é claramente exibida. É aqui que
percebemos a horrenda extensão a que o pecado chegará.
Na primeira aparição o pecado é um SUÍCIDIO do homem. “No dia em que comeres certamente
morrerás”. Assim o homem morreu
espiritualmente.
Na segunda aparição o pecado é um FRATRICÍDIO, Caim matando o próprio Irmão.
Na Cruz o apogeu é atingido, pois o preço a pagar é o DEICÍDIO – o homem crucificando o
Próprio Deus. “...a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e
Cristo. (Atos 2:36)
Na cruz percebemos o preço do pecado:
“Porque
o salário do pecado é a morte”. (Romanos 6.23).
A morte é a herança do pecado.
Portanto,
como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também
a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. (Romanos 5.12).
A morte é tanto física quanto espiritual. O pecado separa o
homem de Deus, que é a fonte da vida. O pecado exclui o homem da presença de
Deus. Neste tempo e na eternidade.
Creio que agora você entende porque um Deus “que passeava
no jardim pela viração do dia; (Gênesis 3:8), para estar com seus filhos, agora,
só poderia ser encontrado, num local inaccessível, atrás de um véu enorme, e
guardado por querubins, no lugar do Santo dos Santos. O véu do templo e o véu pendurado
no tabernáculo testemunhavam que o pecado fazia a exata separação “entre nós” e
o nosso Deus.
A separação é real na Cruz, pois o pecado separa o homem de
Deus.
“Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o
vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos
ouça”. (Isaías 59.2).
O
pecado exclui o homem da presença de Deus. Neste tempo e na eternidade
“Com labaredas de fogo, tomando vingança dos que não
conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus
Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, LONGE DA FACE DO
SENHOR e da glória do seu poder”. (2 Tessalonicenses 1.8,9).
Nesse
quarto pronunciamento de Jesus, conseguimos perceber:
2) A ABSOLUTA
SANTIDADE E A INFLEXÍVEL JUSTIÇA DE DEUS.
Na Cruz O HOMEM fez
uma obra. Ele mostrou sua depravação ao pegar o Perfeito e com “mãos iniquas”.
“...crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. (Atos 2:23).
Na Cruz SATANÁS fez
uma obra: ele manifestou sua insaciável inimizade contra a semente da mulher
ferindo-lhe o calcanhar. “...esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”. (Gênesis 3.15).
Na Cruz o Senhor JESUS
fez uma obra: morreu o justo pelos injustos. “Porque também Cristo padeceu
uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos...” (1 Pedro 3.18).
Na Cruz DEUS fez
uma obra: Ele exibiu sua Santidade e satisfez sua justiça derramando sua ira
sobre aquele que foi feito pecado por nós.
“Àquele
que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus”. (2 Coríntios 5.21)
Nenhuma cena humana, marcaria com tanta propriedade a
Santidade Divina. Deus é tão Santo que o mortal não pode vê-lo em seu ser
essencial, e viver.
Deus é tão Santo, que os serafins cobrem o seu rosto diante
Dele.
“Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas;
com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas
voavam”. (Isaías 6.2).
Deus é tão Santo que quando Isaías teve uma visão de sua
Glória disse:
Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de
lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos
viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.
Isaías 6:5
Deus é tão Santo que se diz sobre Ele:
Tu és
tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Habacuque 1:13
Foi exatamente porque o Salvador estava levando os nossos
pecados que o Trino e Santo Deus não o contemplou naquele instante. Por isso,
virou Deus sua face, literalmente o desamparou.
O Senhor fez exatamente aquilo que disse iria fazer:
“Todos
nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho;
mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos”. (Isaías 53.6).
Como nossos pecados foram colocados sobre Ele, ele
tornou-se o substituto, a Ira divina cairia exatamente sobre a oferta que
estava sendo entregue pelos nossos pecados.
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Essa pergunta
é feita pelo Salmista, quando no Salmo
22.1 suscita essa grande interrogação.
A resposta a sua indagação está posta quando ele mesmo
proferiu no seu hino de exaltação ao criador.
“PORÉM TU ÉS SANTO, tu que habitas entre os louvores de
Israel”. (Salmos 22.3).
Deus é Santo e Justo ao mesmo tempo, por isso cobrou com
preço tão alto toda a dívida do pecado.
É na cruz que encontramos a verdadeira justiça divina,
quando da punição da malignidade deste tão grave mal chamado pecado.
O
mundo antigo foi coberto pelas águas em Noé.
Sodoma
e Gomorra foram cobertos por fogo e enxofre.
O
antigo Egito foi coberto com pragas e também pelas aguas do Mar Vermelho.
E nós
hoje estamos sendo cobertos pelo Sangue de Jesus.
Tudo isso representa a justiça de Deus. A inflexível
Justiça de Deus.
Aquele
que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como
nos não dará também com ele todas as coisas? Romanos 8:32
Deus entregando o seu próprio filho, esse é o mais fiel
retrato de sua inflexível justiça. Foi diante da grande tempestade da ira de
Deus, que se mostrou o desprazer divino contra os incontáveis pecados de uma
grande multidão que homem algum pode numerar. Essa, então, é a verdadeira
explicação do Calvário. O Santo caráter de Deus não podia fazer nada senão
julgar o pecado, mesmo que fosse achado no próprio Cristo. Na cruz, pois, a
justiça divina foi satisfeita e sua santidade reivindicada.
Conclusão
Alguns “ecos” deste angustiante brado, necessitam dizer
algo a cada um de nós hoje.
“Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? ”.
Este é um brado de desolação, nossa oração é que possa você
nunca ecoá-lo.
“Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? ”.
Este é um brado de separação. Nossa oração é que possa você
jamais experimentá-lo.
“Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste? ”.
Esse é um brado de expiação. Nossa oração é para que você
possa apropriar-se de suas virtudes salvíficas.
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