O MEU PASTOR CHATO

"Quando eu era mais jovem, tive um pastor muito chato.

Todo domingo, sem faltar, ele falava que a gente precisava ler a Bíblia.

Todo domingo ele escrevia uma meditação bíblica para cada dia da semana. Saía no boletim da igreja, mas eu nunca li.

Todo o ano ele preparava uma campanha para estimular a gente a ler a Bíblia. Tinha ano que dava certificados (imagine: cer-ti-fi-ca-dos) e brindes para quem terminasse.

No programa de rádio da igreja, que nunca assisti, tinha sempre uma pergunta bíblica. Quem respondesse concorria a três livros no final do programa. Sei disso porque ele comentava na abertura do culto e eu, às vezes, prestava atenção.

De vez em quando, no culto, ele dava oportunidade para perguntas sobre dificuldades surgidas na leitura da Bíblia. Prometia responder e as que não soubesse pesquisaria. No meio da semana, ele mesmo dirigia uma classe, junto com outro pastor, só para tirar dúvidas dos leitores da Bíblia.
De vez em quanto, com alegria estampada no rosto, ele falava de pessoas, antigas na fé, que nunca tinham lido a Bíblia toda, mas que conseguiram fazer isso e estavam muito felizes.
Eu sei que ele lia outros livros, mas só pregava da Bíblia. Ele pregava sobre temas da vida, mas sempre a partir da Bíblia. Ele parecia encher a boca para declarar, quase que todo domingo, que precisamos ouvir todo o conselho de Deus e este conselho está na Bíblia.
Uma vez ele planejou um congresso de adoração e Bíblia, em que todas as músicas cantadas seriam com letras transcritas das Escrituras. Não deu certo, mas achei interessante.
Ele vivia repetindo, cansativamente, que os mandamentos da Bíblia são para o nosso bem e não para o bem daquele que os formulou.

Meu pastor insistia que jamais devemos dizer "eu, porém", quando lemos na Bíblia "tu, porém"; com isto, ele queria insistir que devemos seguir o Deus da Bíblia e não os deuses deste mundo. Uma vez ele disse que muitas pessoas que vivem de dar conselhos para os outros não têm moral alguma; falam de casamento, mas já se casaram várias vezes; dão dicas sobre economia, mas andam endividados.
Acho que não vou esquecer desse pastor. Sua insistência me lembra que preciso ler a Bíblia.
Agora, me dá licença que ainda não li meus 12 capítulos desta semana. É que acabei gostando de ler a Bíblia".

Mas, antes de terminar, preciso dizer: "obrigado, meu pastor chato".

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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