CELEBRANDO COMUNHÃO

CELEBRANDO COMUNHÃO

Texto: III JOÃO

Terminado o culto em nossa igreja. Uma ligação direcionada ao meu telefone simplesmente para agradecer. A família agradecia a vida de nosso presidente do Conselho Diaconal, que se dispôs a buscar um idoso daquela família em sua casa para que o mesmo celebrasse da comunhão da igreja na Ceia do Senhor.

É certo que aquele já havia sido um culto dinâmico, Deus nos falou através de uma mensagem vigorosa, nada disto, porém, foi e será mais forte em nosso coração do que o gesto amoroso e solidário do presidente de nosso conselho diaconal que decidiu doar de seu tempo e de sua vida para trazer a comunhão dos santos um irmão idoso de nossa igreja.

Sobre a carta de III João, sabemos que foi escrita ao “amado Gaio”, vs. 1, pelo apóstolo João, já em idade bem avançada. No texto de hoje, somos conduzidos por João à visão de uma comunhão que se manifesta de forma qualificada.

Vejamos o texto:

1 O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo em verdade.

 2 Amado, peço a Deus que prosperes em tudo e tenhas saúde, assim como tua alma prospera.

 3 Pois folgo muito, quando os irmãos vêm dar testemunho da tua verdade, como tu andas em verdade.

 4 Não tenho maior alegria do que saber que meus filhos andam na verdade.

 5 Amado, tu procedes fielmente em tudo o que fazes aos irmãos, e estes até estranhos,

 6 os quais dão testemunho do teu amor diante da igreja, aos quais farás bem se ajudares na sua viagem de um modo digno de Deus;

 7 pois por amor do Nome é que eles saíram, nada aceitando dos gentios.

 8 Devemos, pois, acolher tais homens, a fim de que nos tornemos cooperadores com eles na obra da verdade. (III João)

O Senhor abençoe a sua palavra lida neste momento.

Em seu comentário Bíblico escrito entre os séculos XVII e XVIII Matthew Henry disse o seguinte:

“O homem é feito para a sociedade, e os cristãos, para a comunhão dos santos”. (Matthew Henry).

Para compreendermos melhor o que seja a comunhão, procuremos então fazer um diagnóstico da mesma.

Identificaremos passo a passo o personagens envolvidos no relato desta epístola: João, Gaio, Diótrefes e Demétrio


I – DIAGNÓSTICO DA COMUNHÃO

João, por amostragem, faz uma equilibrada avaliação dos participantes da comunhão da igreja, sinalizando que a comunhão é sempre composta por homens que trazem marcas de qualidade e fragilidade.

1. GAIO: cristão “próspero de alma”

“Amado, peço a Deus que prosperes em tudo e tenhas saúde, assim como tua alma prospera”. (III João versículo 2).

Existem alguns “Gaios” na Bíblia:

•    de Corinto (1 Co 1.14, Rom 16.23);
“Dou graças que a nenhum de vós batizei senão a Crispo e a Gaio”. (1 Co 1.14) e  “Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e o da igreja toda. Saúda-vos (Romanos 16.23)
•    da Macedônia (At 19:29), “A cidade encheu-se de confusão, e todos correram ao teatro, arrebatando os macedônios, Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo em viagem”. (At 19.29).
•    de Derbe (que participou da última viagem missionária de Paulo). (At 20.4) “Acompanharam-no Sópatro de Beréia, filho de Pirro, e dos de Tessalônica, Aristarco e Secundo, e Gaio de Derbe, e Timóteo, e dos da Ásia, Tíquico e Trófimo; (Atos dos Apóstolos 20.4).

GAIO era um nome comum no império romano.

Este Gaio aqui era:

•    Líder, amado por João (v. 1, 2, 5, 11) 
“Ao amado Gaio, a quem eu amo em verdade” “Amado, peço a Deus que prosperes em tudo e tenhas saúde, assim como tua alma prospera”. “Amado, tu procedes fielmente em tudo o que fazes aos irmãos, e estes até estranhos”. “Amado, não imites o mal, mas o bem”

•    Possivelmente, um filho seu na fé (v. 4).
“Não tenho maior alegria do que saber que meus filhos andam na verdade”.

A expressão que resume sua postura é “próspero de alma”: João sabia da importância de uma “vida integral”, por isso desejou sinceramente que a prosperidade financeira e física de Gaio fosse tão intensa quanto sua “prosperidade interior”. “Amado, peço a Deus que prosperes em tudo e tenhas saúde”.

Na base de uma “alma próspera” podemos experimentar, se Deus permitir, todas as outras dimensões humanas de prosperidade.

Havia entre Gaio e o Senhor uma intimidade. Gaio não é um daqueles homens que pura e simplesmente falam a respeito de Deus, mas sim, que falam diretamente com Ele mesmo.

Que sinais Gaio tinha de “prosperidade interior”?

•    Gaio andava na verdade (v. 3-4 “... tu andas na verdade...”) - este andar, testemunhado por irmãos que conviviam com Gaio, trouxe grande alegria para João.

•    Gaio amava de verdade (v. 5-8 “....deram testemunho do teu amor”)

Seu amor era:

-Prático (v. 5a); “tu procedes fielmente em tudo o que fazes aos irmãos”
-Indiscriminado (v. 5b); “estes até estranhos”
-Reconhecido na igreja pelos que por ele foram amados (v.6a); “os quais dão testemunho do teu amor diante da igreja”
-Teocêntrico e missionário (v. 6b-7); “...farás bem se ajudares na sua viagem de um modo digno de Deus; pois por amor do Nome é que eles saíram, nada aceitando dos gentios”.
-Cooperador com a verdade (V. 8). “...cooperadores com eles na obra da verdade”.

2. DIÓTREFES: crente de alma pobre (v. 9-10)

“9- Escrevi algumas palavras à igreja; mas Diótrefes que gosta da primazia entre eles, não nos recebe.
 10- Por isso quando eu aí for, fá-lo-ei lembrar as obras que faz, falando palavras malignas contra nós; e não satisfeito com isto, ele mesmo não recebe os irmãos, e àqueles que os querem receber, ele proíbe de o fazerem, e ainda os exclui da igreja.
 11- Amado, não imites o mal, mas o bem. Aquele que faz o bem, é de Deus; aquele que faz o mal, nunca viu a Deus. (III João)

Diótrefes, tristemente, era o oposto de Gaio pois:

- Amava a sua projeção pessoal (v. 9a); “...Diótrefes que gosta da primazia entre eles”.

- Amava a desagregação rejeitando abertamente seus líderes (v. 9a), “não nos recebe”.

“Não devemos impor nenhuma condição para a aceitação de nossos irmãos, a não ser as que Deus impôs para aceitá-los”.
(Matthew Henry).

- Usava de “palavras maliciosas” para estabelecer uma rede de intrigas (v. 10a).   “...fá-lo-ei lembrar as obras que faz, falando palavras malignas contra nós”.

- Agia violentamente contra irmãos acolhedores (v. 10b). “...e não satisfeito com isto, ele mesmo não recebe os irmãos, e àqueles que os querem receber, ele proíbe de o fazerem, e ainda os exclui da igreja”.

Muitos dos cristãos primitivos foram chamados para uma vida de evangelização itinerante, sem salário ou recompensa secular; (v.7), consequentemente dependiam da hospitalidade dos cristãos e, por isso, moravam em diversas cidades ou aldeias, por onde quer que passassem. É para estes que Diótrefes mandava fechar as portas e não recebe-los.

Por tudo isto, João exortou Gaio a considerá-lo como um exemplo a não ser seguido pois, apesar de estar no meio do povo de Deus, ele não tinha as marcas de Deus (v. 11)


3. DEMÉTRIO: cristão de boa reputação (v. 12)

“De Demétrio todos, e a própria verdade, dão testemunho; nós também damos testemunho, e sabes que o nosso testemunho é verdadeiro”.

Demétrio era o oposto de Diótrefes: reconhecido por todos, por João e pela própria verdade, como um homem diferenciadamente comprometido com Deus e com o povo de Deus.


II – OS VALORES DA COMUNHÃO

Que lições podemos encontrar neste texto para o exercício de COMUNHÃO da igreja de Cristo? Que princípios de comunhão Deus deseja trabalhar hoje em nossas vidas?

1. Comunhão envolve verdade (v. 3, 4, 8)

“3-4. Pois folgo muito, quando os irmãos vêm dar testemunho da tua verdade, como tu andas em verdade. Não tenho maior alegria do que saber que meus filhos andam na verdade”.
“8- Devemos, pois, acolher tais homens, a fim de que nos tornemos cooperadores com eles na obra da verdade”.

Os participantes da comunhão da igreja formam uma grande diversidade de raízes, cultura, formação, idade, visão, experiências.... Qual é, neste contexto, o elemento central de convergência e equilíbrio?

1º- A verdade de Deus expressa nas escrituras sagradas (Jo 17.17) “santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade”.

2º - O relacionamento com o Deus da Verdade. “Disse Jesus: eu sou o caminho a verdade e a vida”. (João 14.6)

O Reverendo Presbiteriano William Greenough Thayer Shedd
(1820 – 1894) disse o seguinte:

“Não é suficiente ter comunhão com a verdade, pois esta é impessoal. Precisamos ter comunhão com o Deus da verdade”.
W. G. T. Shedd

2. Comunhão envolve amor

Gaio amava os irmãos não apenas conceitualmente, mas de forma objetiva, concreta, perceptível, mensurável. Sua linguagem de amor era o serviço da hospitalidade.

Dr. Gary Chapman, além do serviço, aponta 4 outras linguagens básicas de amor:

- palavras de afirmação,
-oferecer qualidade de tempo,
-oferecer presentes e
-toque físico.

Seja qual for a sua linguagem de amor, o que importa é amar o próximo numa linguagem concreta, prática que ele efetivamente entenda! Este é o conceito de amor que estava no coração de João (1 Jo 3:16-18).

“Por isto conhecemos o amor, porque Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos.

Mas aquele que tiver bens do mundo e vir seu irmão em necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas por obras e em verdade”. (1 João 3:16-18 ).

Neste caso específico parece que É mais fácil falar do que fazer, não acha?

Para ilustrar: Os ratos resolveram acabar de vez com a ameaça de um temível gato. Os ratos eram surpreendidos pelo felino todas as vezes que saíam da toca, e muitos perdiam a vida. Toda a fa­mília de ratos estava ameaçada de destruição. Era necessário tomar uma atitude para acabar com tamanha ameaça ou todos morreriam.

Depois de intensa discussão, os ratos chegaram a uma solução, pois a principal arma do gato era o elemento sur­presa. Decidiram que o problema seria resolvido se colocassem um sino no pescoço do gato. Todos aclamaram a idéia e teceram insistentes elogios ao idealizador, até que alguém bradou:   — Quem vai colocar o sino no pescoço do gato?!  Ali ficou bem clara a questão: É mais fácil falar do que fazer.

É esse o sentido: “...não amemos de palavra nem de língua, mas por obras e em verdade”. É fácil falar o difícil é fazer.

3. Comunhão envolve submissão.

Na relação com Deus é extremamente simples compreender o sentido de submissão. É na realidade um ato de fé e um reconhecimento de que alguém está no controle e tem poder sobre você. (Lucas 7.1-10)

Muitas pessoas confundem a submissão com uma postura cordata em qualquer sentido.

SUBMISSÃO significa estar disposto a fazer a vontade de outra pessoa. Ser submisso exige muita humildade, pois significa reconhecer a autoridade de outra pessoa. A etimologia da palavra -seu sentido ORIGINAL- é "estar sob a mesma missão" de outra pessoa

SUBMISSÃO A DEUS - “Se formos fracos em nossa comunhão com Deus, seremos fracos em tudo”. (C. H. Spurgeon).

SUBMISSÃO A AUTORIDADE QUE DEUS CONSTITUIU - Esta é uma carta de um líder ao seu liderado. “O ancião ao amado Gaio”. Ou “O presbítero ao amado Gaio”.

Ele se autodenomina “o ancião”, sugerindo que era mais velho do que os outros cristãos e que seu conhecimento pessoal da fé foi muito além do deles.

João, claramente se apresenta como líder, e exerceu importante papel no fomento do amor: amando Gaio (v.1); preocupando-se com todas as necessidades de Gaio (v. 2); reconhecendo o amor de Gaio e encorajando-o a amar mais (v. 2-8);

João, claramente se apresenta como líder, confrontando Diótrefes que era um obstáculo sério para a expansão do amor;

João, claramente se apresenta como líder, reconhecendo o bom exemplo de Demétrio; dispondo-se a fazer com Gaio um contato pessoal (v. 13-14); reforçando no coração de Gaio a importância da amizade (v. 15).

Quando analisamos este texto percebemos claramente que a comunhão é a arte de desenvolver relações pessoais qualificadas em Deus, por Deus e para a glória de Deus. Neste circuito de relações pessoais os líderes ocupam um importante papel de agregação. Líderes precisam saber conduzir seus liderados e os liderados precisam construir uma relação de confiança e de submissão aos seus líderes.

Assim, só haverá comunhão se houver mais envolvimento da liderança na promoção de comunhão.

Algum tempo atrás li sobre a história de um Professor Que Realmente Ensinou.

Estávamos no ano de 1947 Dr. Subrahmanyan Chandrasekhar era professor de Física da Universidade de Chicago. Ele era indiano, nascido em Lahore, (19/10/1910), naturalizado americano. Apesar de ser estrangeiro, por causa de sua experiência e seu conhecimento, ele foi contratado pela Universidade de Chicago, que é uma das que mais atua na área de ciências.

Naquele ano, com seus 37 anos de vida, Dr. Chandrasekhar foi chamado para ensinar um seminário sobre astrofísica, sua especialidade. Na época ele morava em Wisconsin, outro estado, onde realizava pesquisas num observatório de astronomia.

Ele pretendia viajar duas vezes por semana para dar a aula, apesar de que o seminário seria durante um inverno rigoroso.

As matrículas para o seminário, porém, foram muito ruins. Apenas dois estudantes se inscreveram para o curso. A faculdade esperava que Dr. Chandrasekhar fosse cancelar o curso, ao em vez de perder seu tempo valioso. Mas, com apenas dois estudantes inscritos, ele deu a matéria. Ele enfrentou duas vezes por semana uma viagem de mais de 300 quilômetros na neve e frio por estradas do interior do estado para dar aula a dois alunos.

Os estudantes dele foram dois chineses naturalizados americanos, Chen Ning Yang (Nascido em 1922) e Tsung-Dao Lee (nascido em 1926). Eles eram apenas estudantes de faculdade, no começo de suas carreiras um com 25 anos e o outro com 21 anos. Ninguém os conhecia. Ninguém nunca ouvira falar deles. Todos os três eram estrangeiros. Provavelmente nenhum deles falava inglês com muita facilidade.

Havia motivos de sobra para Dr. Chandrasekhar cancelar o curso, antes ou até depois de começar. Mas, 2 vezes por semana ele fez a longa viagem na neve para Chicago para ensinar seus dois alunos chineses.

Dez anos mais tarde, Dr. Chandrasekhar recebeu sua gratificação. Em 1957 Chen Ning Yang (35 anos) e Tsung-Dao Lee (31 anos) receberam em conjunto o prêmio mais cobiçado das ciências, o Prêmio Nobel de física.

Em 1983, Trinta e seis anos mais tarde o próprio Dr. Chandrasekhar, no auge dos seus 73 anos de idade, recebeu o mesmo prêmio. Recebeu o Nobel de Física, por estudos teóricos de processos físicos referentes à estrutura e à evolução das estrelas.

O velho professor foi antecipado pelos seus próprios alunos. Mais, não devemos imaginar que ele ficou triste por isso.

Pelo contrário. Podemos imaginar que foi com muito orgulho e satisfação que o velho professor lembrou dos dois alunos, estrangeiros, desconhecidos, mal falando um novo idioma. Eles eram apenas aprendizes de um professor famoso. Ele era um professor muito ocupado nas suas próprias pesquisas e realizações. Mas ele era um professor que separou seu tempo precioso para ensinar naquele inverno rigoroso de 1947 dois alunos que mostraram interesse. Dois alunos que depois mostraram seu verdadeiro potencial.

Quando eu li a história de Dr. Chandrasekhar eu fiquei curioso sobre uma coisa. Por que será que aquele físico tão conhecido na época levou tanto tempo para ser reconhecido? Por que será que ele levou 28 anos a mais que seus alunos ilustres para receber o mesmo prêmio? Será que foi porque ele era menos inteligente? Será que ele era um homem preguiçoso? Será que ele não se esforçava o suficiente?

Os fatos da história me levaram a crer que nenhum destes motivos explica a demora para que este homem recebesse também seu reconhecimento.

Depois de refletir um pouco mais eu cheguei a uma conclusão que me parece a mais lógica. Ele levou tanto tempo, porque ele não se dedicou exclusivamente às suas pesquisas, acabou por escolher se dedicar as pessoas.

Ele se dedicou também a uma outra vocação – transmitir as pessoas o que ele sabia. Ele não era exclusivamente físico. Ele era também professor. Ele não se contentou em ver o que ele poderia realizar na vida. Ele queria também ver o que outras pessoas, beneficiados pelo seu conhecimento, poderiam fazer. Ele decidiu investir na formação de vidas.

O que sabia e conhecia, Ele não guardou para si mesmo e para sua própria glória. Ele deu de si para outros, para que outros também pudessem ser beneficiados.

É assim também com os verdadeiros discípulos de Jesus. Você tem que dar de si. Você tem que se privar. Você tem que se negar. Você tem que ajudar os outros.

Mas, não poderia ser de outro jeito. Foi assim mesmo que o Mestre dos Mestres ensinou seus alunos.

Que Deus conduza você pelos caminhos da comunhão, em amizade, partilhando da verdade e do amor, solidificando sua fé no discipulado vida a vida, é a minha oração!

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