A DIDÁTICA DOS ERROS


Este capítulo do Evangelho de Lucas retrata uma série de situações que os discípulos de Jesus enfrentaram, com seus equívocos, que muito bem nos servem como alerta. Você notará que os erros que os discípulos cometeram são os principais erros que os ministros de hoje continuam cometendo.

Os erros que identificamos neste capítulo, basicamente, derivam da superestima que os discípulos desenvolveram a partir da bem sucedida missão, descrita em 9:1-6. Eles receberam poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças (v. 1) saíram pelas aldeias anunciando o evangelho e fazendo curas por toda parte (v. 6). Eles pensaram que já estavam prontos, maduros. Quando nos superestimamos, conseqüentemente, tendemos a subestimar o poder do nosso Deus! Passamos a agir como se não precisássemos tanto dEle.

SERÁ SEMPRE UM GRANDE ERRO:
ESTABELECER PLANOS BASEADOS EM NOSSA LÓGICA (Lc 9.12)

O verso 12 relata que os doze chegaram a Jesus com um plano perfeito: Despede a multidão, para que, indo às aldeias e aos sítios em redor, se hospedem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto. Eles estavam tão seguros de que tinham a melhor solução que nem se dão ao trabalho de perguntar a Jesus o que achava deste plano. Não trazem uma sugestão, uma possibilidade, mas um plano que, para eles, era a melhor opção.

Bem nos alerta o Senhor através do profeta Isaías: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos (Is 55:8 e 9).

Para surpresa dos presunçosos discípulos, o Senhor apresenta o Seu plano: Dai-lhes vós de comer (v. 13). Tanta presunção não os permitia entender de que maneira poderia o plano do Senhor dar certo, afinal, só dispunham de 5 pães e dois peixinhos! Estavam redondamente enganados: o Senhor multiplicou de forma maravilhosa os pães e os peixes e foram alimentados mais de 5 mil homens, mais mulheres e crianças. O verso 17 registra ainda que todos se fartaram e que o que sobejou encheu 12 cestos.

SERÁ SEMPRE UM GRANDE ERRO:
QUERER FALAR DELE SEM ANTES OUVI-LO (Lc 9.33-35)

Pode existir maior prova de soberba num pregador do que esta, de querer falar de Deus sem antes ter parado para ouvi-lo? O verso 33 descreve que, estando Pedro, Tiago e João no monte da transfiguração, o primeiro tomou a iniciativa e propôs: Mestre, bom é estarmos nós aqui; façamos, pois, três cabanas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.

Quão imprópria e fora de contexto foi a palavra dirigida por Pedro a Jesus! Tanto que nem mereceu resposta do Senhor. O próprio Pai foi quem interrompeu a infeliz palavra de Pedro: E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho, o meu eleito, a ele ouvi (v. 35).

É preciso aprender a ouvi-lo, antes de querer falar dele! Em João 10, o Senhor descreve suas ovelhas como aquelas que ouvem e conhecem Sua voz: Quando o Bom Pastor tira para fora todas as ovelhas que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque conhecem a sua voz (Jo 10:4); Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um pastor (Jo 10:16); As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem. (Jo 10:27).

SERÁ SEMPRE UM GRANDE ERRO:
DEIXAR-SE DOMINAR PELAS FRAQUEZAS DA CARNE (Lc 9.28-36)

O mesmo trecho de Lucas 9 que retrata o episódio da transfiguração do Senhor revela que os três apóstolos levados por Jesus ao monte se haviam deixado vencer pelo sono (v. 32). Notemos que enquanto o Senhor se transfigurava e falava com Moisés e Elias, seus discípulos estavam vencidos pelo sono!

O sono pode simbolizar as coisas que estão no mundo para satisfazer a carne e que provocam a embriaguez da alma. Uma alma embriagada de “sono” é impedida de reconhecer a glória de Deus (compare dos versos 29 e 32; quanta coisa gloriosa será que os apóstolos deixaram de presenciar enquanto dormiam?).

Em Mateus 26:36ss, no Getsêmane, os mesmos discípulos dormiram novamente! Observe que o verso 37 conta que Jesus entristecia-se e angustiava-se. No verso 38 Ele mesmo declarou: A minha alma está triste até a morte. Apesar de Jesus ter sido tão enfático eles não conseguiram vigiar nem sequer uma hora!

Quando você deixa de vigiar, “dorme”, fica a mercê de cair em tentação. Para mim o texto de II Samuel 11:1 e 2, que narra a queda do rei Davi, bem ilustra esta verdade: Tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, Davi enviou Joabe, e com ele os seus servos e todo o Israel; e eles destruíram os amonitas, e sitiaram a Rabá. Porém Davi ficou em Jerusalém. Ora, aconteceu que, numa tarde, Davi se levantou do seu leito e se pôs a passear no terraço da casa real; e do terraço viu uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista.

Para evitar este erro o apóstolo Paulo recomendou a disciplina de um atleta (I Co 9:24-27).

SERÁ SEMPRE UM GRANDE ERRO:
DESEJAR SER O MAIOR E NÃO PASSAR PELA PROVA DO SERVIÇO (Lc 9.46)

O texto bíblico narra: Suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. O texto paralelo de Marcos 9:33 acrescenta: Chegaram a Cafarnaum. E estando ele em casa, perguntou-lhes: que estáveis discutindo pelo caminho? Mas eles calaram, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles era o maior. A questão de qual era o mais importante incomodava o grupo de discípulos de Jesus.

Eles não entendiam ainda do que Jesus realmente falava quando se referia a morrer (Lc 9:44 e 45 e Mc 9:32). Eles experimentaram o poder, viram o Senhor alimentar os mais de cinco mil homens, a transfiguração, a cura do menino epilético e muito mais! Os discípulos esperavam participar de um reino indestrutível, político, glorioso.

Houve outras ocasiões quando os discípulos deixaram as vaidades aflorar. Em Lucas 22:24 a 27 lemos: Levantou-se também entre eles contenda sobre qual deles parecia ser o maior. Ao que Jesus lhes disse: os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sereis assim; antes, o maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa como quem serve. O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, em Mateus 20:21 também pode ser incluído – ela queria que seus filhos fossem os maiores no reino de Jesus.

A lição que Jesus deu aos apóstolos é maravilhosa e inclui a figura de uma criança (Lc 9:47 e 48): qualquer que receber esta criança em meu nome, a mim me recebe. (...) pois aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande.

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