“Pedis e não recebeis...” (Tiago 4.3)
Já parou para pensar na possibilidade de que um não, bem dito e de forma bem clara, pode ser a melhor forma que Deus encontrou para abençoar a sua vida.
Pense comigo hoje na possibilidade de que um NÃO de Deus não é um “cartão vermelho” e sim a forma pela qual você pode conhecer a vontade de Deus para a sua vida.
Hoje quero pensar no NÃO de Deus enquanto sua resposta negativa às nossas orações, como sendo uma bênção. Quando o NÃO de Deus é o nosso livramento e quando a sua resposta contrária à nossa vontade é o maior gesto da sua misericórdia por nós.
I. O NÃO, É UMA BENÇÃO DE DEUS PARA ESTABELECER LIMITES
Muitos são os que se queixam sem razão. Muitos são aqueles que sendo hoje tanto mais do que eram, e tendo tanto mais do que tinham, e estando tanto mais honrados do que estavam, ainda se queixam.
Adão antes de Deus o formar não era nada. Formado, era uma estátua de barro. Recebendo o sopro de Deus, pôs Adão em pé e começou a ser homem. Recebeu tanta honra que Deus lhe deu a presidência da terra: sobre todos os animais; a presidência do ar: sobre todas as aves e a presidência do mar: sobre todos os peixes. Parece que não podia ser mais nem melhor. Contudo, nem Adão nem Eva ficaram satisfeitos. Ainda queriam mais. E o que queriam? Queriam ser igual a Deus.
Há tal ambição de subir e tal desatino de crescer?
anteontem, nada;
ontem, barro;
hoje, homem;
amanhã, Deus?
Quem ontem era barro, não contentará com ser hoje homem, e o primeiro homem? Quem anteontem era nada, não contentará com ser hoje tudo, e mandar tudo? Adão estava descontente, mas sem razão.
Vejam aqui como o “NÃO” foi necessário. O não de Deus estabeleceu um abençoado limite.
Davi, em 2 Sm 7:8 está escrito: “Tomei-te da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel”. Não só diz Deus o lugar onde o pôs, senão também o lugar donde o tirou. Tirou-o das pastagens pedregosas de Belém e o colocou no trono. Lembre-se o descontente com Deus, onde estava e onde está. Lembre-se com Adão, do que era e do que é. E logo verá que as nossas queixas não são razoáveis.
Os filhos de Zebedeu pediram para Jesus um lugar de honra no seu Reino. Enquanto Jesus fala da cruz, eles falavam da coroa. Enquanto Jesus sentia a dor da morte, eles estavam encantados com o poder. Jesus lhes diz que eles NÃO sabem o que pedem e NÃO lhes atende o pedido. Então, eles viram o excesso da sua ambição. Ontem remando a barca e remendando as redes. Hoje, apóstolos de Jesus; amanhã, desejando ser maiores do que os outros? É por isso que Tiago diz: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”. (Tiago 4.3)
II. O NÃO, É UMA CLARA EXPRESSÃO DE QUE EXISTE A VONTADE DE DEUS
Sabe meu amigo, se existisse no mundo somente a sua vontade, todos diriam sim a tudo o que você pedisse ou mesmo desejasse. Graças a Deus existe o “não” para lembrá-lo que existe uma diferença entre a sua vontade e a vontade de Deus.
Muitas vezes não sabemos também o que pedimos. Vejamos:
Raquel, fez uma das mais importunas e impacientes petições que uma mulher pode fazer ao marido em sua vida: “Dá-me filhos, senão eu morrerei” (Gn 30:1). Respondeu-lhe Jacó, que os filhos só Deus os dá, e só ele os pode dar. Raquel tinha o amor de Jacó, mas isto não era o suficiente para ela. Ela queria filhos para continuar vivendo.
Sua petição foi atendida, mas o resultado foi o contrário do que pediu. O que pedia Raquel não só era filho, senão filhos e assim lho concedeu Deus, porque a fez mãe de José e Benjamim. Mas, ao cabo dando à luz ao segundo filho, morreu de parto e no mesmo parto do segundo filho.
Vejamos os termos com que Raquel pedia os filhos: “Dá-me filhos, senão eu morrerei”. E quando cuidava que havia de morrer se não tivesse filhos, porque teve filhos, no mesmo ponto em que os teve, morreu. Cuidava que pedia a vida, e pedia a morte; cuidava que pedia a alegria sua e de sua casa, e pedia o luto e a orfandade dela. Tão certo é que no que pedimos com maiores ânsias, não sabemos o que pedimos.
Sansão e o Filho Pródigo. Sabida é a história de Sansão, e sabida a do Pródigo; ambos famosos por seus excessos. Deixados, pois os princípios, e progressos de uma e outra tragédia, ponhamo-nos ao fim de ambas, e vejamos o estado de extrema miséria, a que os passos de cada um os levaram por tão diversos caminhos.
Vejam aquele homem robusto e agigantado, que com aspecto ferozmente triste, tosquiados os cabelos, cavados os olhos, e correndo sangue, atado dentro de um cárcere a duas fortes cadeias. Pois aquele é Sansão.
Vejam aquele jovem macilento e pensativo, que roto e quase despido, com uma corneta pendente no ombro, arrimado sobre um cajado, vivendo na pocilga e com fome. Pois aquele é o Pródigo.
Que mudanças! Um era tão valente e outro tão altivo. Agora o Pródigo com fome só tem autorização para comer as bolotas dos porcos e Sansão, o imbatível e jogado em público para chacota do povo, foi escarnecido e afrontado até à morte. Mas qual a causa dessas mudanças tão estranhas? Essas mudanças aterradoras não tiveram outra causa que a resposta positiva que ambos fizeram.
Sansão pediu a seus pais que lhe dessem por mulher uma filistéia. Concederam-lhe os pais o que pediu; e esta filistéia foi a causa das guerras que Sansão teve com os filisteus, e dos enganos e traições de Dalila, e da sua prisão, e do seu cativeiro, e da sua cegueira, e das suas afrontas e por fim da sua própria morte.
O Pródigo pediu a seu pai que lhe desse em vida a herança que lhe havia de caber por sua morte. Concedeu-lhe o Pai o que pedira: e esta herança consumida em larguezas, e vícios da mocidade, foi a causa da sua pobreza, da sua vileza, da sua miséria, da sua fome, da sua servidão, da sua desonra, que só tiveram de desconto o pesar e o arrependimento.
Pediria Raquel filhos se soubesse que o ter filhos lhe havia de custar a vida?
Pediria Sansão a filistéia, se soubesse que ela havia de ser a causa de sua afronta, de sua morte e de perder os olhos com que a vira?
Pediria o Pródigo a herança antecipada, se soubesse que com ela havia de comprar a miséria, a fome, a servidão e desonra?
“...Não recebeis, porque pedis mal”. (Tiago 4.3)
Nos casos em questão, eles poderiam até não entender, mas seria uma benção conviver com esse Não retumbante de DEUS. O sim nestes casos foi de “difícil” aprendizado.
Porque o pediram então? Vocês já sabem a resposta: Pediram porque não sabiam o que pediram.
Isso deve nos ensinar a aceitar o Não de Deus com gratidão.
Ele conhece o futuro e sabe o que é melhor para nós. Ele nos atende não segundo a nossa vontade, mas segundo a perfeita vontade.
III. O NÃO É UMA BENÇÃO PARA OS QUE SE SUBMETEM À VONTADE DE DEUS.
Jesus ensina no Sermão do Monte: “Pedi e dar-se-vos-á”. E para maior confirmação desta promessa acrescenta: “Pois todo o que pede, recebe” (Lc 11:9-13).
Não diz Jesus que todo o que pede recebe o que pede. Diz Jesus que todo o que pede recebe. Muitas vezes, porém, recebe o contrário do que pede.
Jesus confirma seu ensino com três exemplos familiares:
“Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?” Pois esta é a razão porque Deus, que nos trata como filhos, nos diz muitas vezes um NÃO e nos nega o que pedimos; porque pedimos pedras, porque pedimos serpentes, porque pedimos escorpiões.
Cuidamos que pedimos sustento e pedimos veneno; cuidamos que pedimos o que havemos de comer e pedimos o que nos há de comer; cuidamos que pedimos com que viver, e pedimos o que nos há de matar – e isto é pedir serpentes e escorpiões. Louve ao Senhor se ele lhe responde com seu “Não” abençoador.
Quando somos tão néscios que não distinguimos o escorpião do ovo, nem a serpente do peixe, nem o pão da pedra, Deus que é Pai e tão bom Pai, nos nega o que tão perigosamente pedimos.
Para concluir, o apóstolo Paulo diz que Deus nos assiste em nossa fraqueza porque não sabemos orar como convém. Não sabemos orar porque não conhecemos o futuro nem sabemos o que é melhor para nós. Como filhos de Deus, precisamos aprender dois princípios básicos ensinados por Tiago:
1. Devemos sempre orar a Deus e pedir a ele o que necessitamos
Diz Tiago: “Nada tendes, porque nada pedis”. Jesus ensinou: “Pedi e dar-se-vos-á”. A falta de oração retém as bênçãos do céu. Podemos ser ousados para pedir, pois Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós.
2. Devemos sempre nos alegrar quando Deus responde NÃO às nossas orações. Deus é soberano. Ele está no controle do universo e das nossas vidas. Ele trabalha todas as coisas para o nosso bem. Ele age no seu tempo e de acordo com a sua vontade. Ele sempre tem o melhor para nós. Ainda que ele nos leve para o deserto, ou pelos vales, ou pelas ondas, ou pelos rios, ou até mesmo pelo fogo. Ele tem um propósito em mente: nos transformar à imagem de Jesus.
Recebamos o NÃO DE DEUS com sinceridade! O não também é benção!
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