SOBRE A DOR (MÁGOA)


SOBRE A DOR* (MÁGOA).
Por: Desmond Tutu


Muitas vezes parece mais fácil ou mais seguro ignorar uma dor, reprimi-la, tirá-la da cabeça, fingir que não aconteceu ou racionalizá-la, dizendo a nós mesmos que não devíamos nos sentir como nos sentimos. Mas uma mágoa é uma mágoa.  Uma perda é uma perda. Uma dor é uma dor. E, um mal sentido mas negado sempre encontrará uma forma de se expressar. Quando enterro minha mágoa em vergonha ou silêncio, ela começa a se infeccionar de dentro para fora. Sinto a dor mais agudamente, e sofro ainda mais por sua causa.

Devemos ser corajosos e dar vazão às mágoas que nos levam a sentir vergonha ou nos diminuem. Quando nossa dignidade é violada, não fazemos bem a ninguém guardando a ferida no armário de um passado que nos recusamos a reconhecer. Não precisamos sucumbir à tentação de reagir a uma violação dessas através da retaliação.

“...Somos tão doentes quanto os segredos que guardamos”. Não somos responsáveis pelo que nos despedaça, mas podemos ser pelo que nos reconstrói. Dar vazão a dor é o modo como começamos a curar nossas neuroses.

Jamais dar vazão à magoa pode ter consequências imprevistas e imprevisíveis em nossas vidas.
Quando damos vazão a nossas mágoas, já deixamos para trás o estágio da negação. A Aceitação é o reconhecimento de que as coisas mudaram e já não são mais como antes.

Como seres humanos precisamos aceitar nossa vulnerabilidade.  O reconhecimento de nossa vulnerabilidade é fundamental.

Quando negamos nossos sentimentos, quando escolhemos não dar vazão a nossas mágoas e rejeitamos a dor de nossas perdas, sempre acabamos buscando a destruição. Contudo, quando você abraça seus sentimentos, abraça a si mesmo e permite que outros o abracem também.

“As pessoas devem ser encorajadas a sentir ao máximo, não importa quão constrangidas se sintam...Elas precisam de espaço para ser fracas e vulneráveis durante um tempo antes de poderem se tornar fortes”.

Se dou vazão a dor, me torno humano. Se permaneço trancado na minha revolta, serei um eterno prisioneiro.

Que ser curado? Deixe sua dor sair.

“Não podemos abrir mão de sentimentos que não possuímos”.

Dar vazão a mágoa, pode ser o melhor caminho para se libertar do ressentimento, da revolta, da vergonha, da perda e de tudo aquilo que pode crescer e se infeccionar dentro de nós, quando decidimos não tocar na dor, nem aprendemos a perdoar.

*TUTU, Desmond e Mpho A. Tutu. O Livro do Perdão: para curarmos a nós mesmos e o nosso mundo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2014.  Págs. 101-116.

Dê vazão!

Jesus chorou! (João 11.35)
“E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela”. (Lucas 19:41).
Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. (Lucas 22:42).
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão. (Lucas 22:44).
E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27:46).


Pense nisso! Se dou vazão a dor, me torno humano. Se permaneço trancado na minha revolta, serei um eterno prisioneiro.

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